sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Trabalho feito







"Muitas pessoas não percebem que a relação amorosa acabou e que devem seguir em frente..."

 
      - Pois não, minha filha. Em que posso ajudá-la?

      - Olha, Mãe Maria, eu vim aqui porque preciso muito da ajuda da senhora. Preciso muito mesmo, viu!

      - Você precisa de minha ajuda para quê, minha filha? Qual o seu problema?

      - Mãe Maria, eu tô sendo perseguida por um espírito. Um espirito, Mãe Maria! Ele fica o dia todo atrás de mim. Fica azucrinando a minha mente. E já faz tempo, Mãe Maria. Eu não aguento mais isso! Não aguento! Tô quase ficando louca. Doidinha de jogar pedra. De arrancar os cabelos. Me ajuda, Mãe Maria! Me ajuda!

      - Calma, filha. Eu vou te ajudar. Há quanto tempo este espirito te persegue?

      - Dois anos, Mãe Maria. Dois anos! Pode isso? Dois anos com este encosto me perseguindo? Dois anos com este inferno na minha cabeça? Eu estou no limite, Mãe Maria! No limite!

      - Calma, minha filha. Tudo ficará bem! Você e ele terão descanso. O que exatamente você sente?

      - Ah, Mãe Maria! Nem sei por onde começar... Mãe Maria, eu vejo a imagem do dito o dia todo! O dia  todo, Mãe Maria! Fico com a visão dele na minha cabeça da hora que abro os olhos de manhã, até a hora que vou dormir a noite. E às vezes me dá uma coisa aqui dentro do peito, Mãe Maria. Uma agonia. Como se fosse saudade. Falta dele, sabe? Tá vendo, Mãe Maria, o que este espirito faz comigo? E tem mais, Mãe Maria, quando durmo ainda sonho com ele! Sonhos de apavorar! Dele me abraçando, me beijando. No sonho ele fica me encarando, Mãe Maria. Fica com seus olhos pretos me olhando fixo. Do jeitinho que ele fazia quando estava comigo!

      - Você conhece o espirito que te persegue, minha filha?

      - Conheço, Mãe Maria. E conheço bem o filho da puta!

      - Filha, respeite minha casa!

      - Desculpe o palavrão, Mãe Maria, mas é isto que ele é! Um cachorro que não vale nada! Mãe Maria, o espirito é do canalha do Vanderley, meu ex-namorado. Do safado sem vergonha! Acredita, Mãe Maria, que ele namorou comigo cinco anos? Cinco anos, Mãe Maria? E na hora que eu e minha família caímos em cima dele, pressionando pra marcar logo a data do casamento, ele caiu fora? Fugiu, Mãe Maria! Escafedeu-se! Se mandou! Disse que não estava preparado pra compromisso mais sério e evaporou. Trocou de telefone, depois de bairro, saiu do emprego... e não me deu mais noticia! Me deixou pra trás com cara de tacho! Como se eu não fosse nada! Pode uma coisa dessa, Mãe Maria?

      - Depois disso ele nunca mais te procurou, filha?

      - Não, Mãe Maria! Nunca mais! Soube por seus amigos que ele tinha arranjado outra namorada. Que ela engravidou e eles casaram. Mas já se separaram!

      - Ele morreu, minha filha?

      - Não, Mãe Maria! Cruz credo! Ele tá vivinho da silva! Semana passada até encontrei ele em um baile. Fiquei só de olho nele. O safado dançou com tudo o que foi sirigaita. Menos comigo...

      - Minha filha, é melhor você esquecer este homem! Arranjar alguém que goste de você de verdade. Tocar a sua vida pra frente, entende?

      - Mãe Maria, eu tenho tentado fazer isto, mas não consigo! Tá muito difícil esquecer o traste! Ele deve ter feito algo pra mim, Mãe Maria. Feito algum feitiço. Eu tenho certeza! Só pode ser! Pra se vingar de mim não sei nem por quê. Ou ele pode feito um trabalho pra me levar de volta pra ele. Trabalho desses fortes, que trazem a pessoa amada em três dias. O trabalho não funcionou porque não voltei pra ele sem casar, mas fiquei assim alucinada. Caidinha por ele. Doidinha, doidinha! Mãe Maria, o Vanderley é meu obsessor! A senhora pode confirmar isso usando seu copo. Seu baralho. Sua vidência. É ele que não me deixa ficar em paz!

      - Filha, eu sei que isto vai doer, mas eu preciso lhe dizer: eu não preciso de vidência para perceber que o obsessor desta história é você!


Kátia Pessoa – 30/10/2012



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