domingo, 26 de junho de 2011

Benzedeiro






      "Eu acho muito bonito o trabalho das benzedeiras, benzedeiros, e toda sorte de gente que trabalha com cura magnetica ou espiritual.
      Acredito que a existência deles é uma forma de Deus dizer que nunca estamos sozinhos."           

      Guilherme tinha um olho aqui neste mundo, e outro acolá, no mundo de lá. No mundo das almas penadas. Havia pessoas que tinham até medo dele, porque quando ele descia seus olhos nelas, assim, concentrado, de ver por dentro, como se elas fossem transparentes, vinha lá uma adivinhação, uma premonição, que nem sempre era o que a pessoa esperava.

      Esse dom de Guilherme, a mãe descobrira nele ainda pequeno. Começou assim: era só ele chorar sem mais nem menos, chamando o nome de uma pessoa, que era batata! Em sete ou dez dias estourando, a pessoa que antes boa, ou sem sinal de morte próxima, batia as botas. Saia desta vida para uma melhor, tanto por causas naturais como acidentais. O menino previa de morte por infarto fulminante a atropelamento. Parecia até que tinha pacto com o Cramunhão, era cria dele. Creia em Deus Pai!

      Com o tempo, o menino passou a prever doença. Olhava para pessoa do nada, e dizia: Tem um troço ruim ai (e apontava parte do corpo). Vá ao médico examinar. A pessoa ia ao médico descrente, o doutor examinava, e encontrava algo para tratar. Gravidez então? Não tinha erro. O menino chegava perto da mulher e dizia: Estou vendo seu filho ai na sua barriga. A mulher, toda espantada retrucava: Mas eu nem estou grávida. E Guilherme respondia: Está sim. E pra confirmar o que o menino previa, depois de alguns meses nascia uma criança bem gordinha.

      Por essa e por outras, Guilherme, coitado, virou uma espécie de mau agouro. Que nem aqueles pássaros, que quando passam por cima do telhado de alguma casa, faz as pessoas de joelhos rezarem, pedindo aos Céus proteção.

      Com o tempo, visita de sua mãe com ele agarrado em sua saia, tornou-se coisa desagradável. Já não surgiam convites para um chá com bolo, um dedo de prosa, e outras conversas de mulheres. E se sua mãe ia de surpresa a casa de alguém, levar um prato de agrado, de comida boa recém-feita, a dona da casa visitada se dizia de saída, indo para um compromisso inadiável, não a deixando nem cruzar sua porta, muito menos oferecendo a eles um copo d’água. Mal disfarçava a dona da casa, o medo que tinha do menino. E antes mesmo que ele e sua mãe pegassem distância, a dona da casa se benzia, como para afastar coisa ruim. Não foi raro Dona Cecilia voltar para casa tendo nas mãos, o prato que preparara com tanto esmero para presente. Até o pai de Guilherme, no bar, não era mais convidado pra um trago pelos amigos. Era só ele chegar, para todo mundo achar que bebera demais, e que era hora de voltar para patroa. Às vezes, o dono do bar fechava as portas antes do tempo, dizendo a seus clientes ser fim de expediente.

      Após inúmeras tentativas, de estreitar com os dos lados amizade, os pais de Guilherme conformaram-se em ficar, de vizinhos isolados, por causa do medo sem sentido, que do menino eles tinham. Seu filho era um anjo, eles sabiam. Abençoado por Deus, com certeza. Não trazia a ninguém mal algum. Se isso eles não entendiam, paciência. Fazer o quê? Na deles, eles iam continuar a viver.

      O tempo passou. Correu rápido como o vento. E um dia, com Guilherme já mocinho, aconteceu um feito que mudaria a sina dele e a de sua família. Dona Hercília, mulher madura, quase idosa, passando em frente de sua porta, acometida de mal súbito, grita e desmaia. Guilherme, que de casa tudo viu, chama a mãe e sai correndo para socorrê-la. A pega no colo, e a leva para o descanso no sofá de sua sala, enquanto ajuda melhor não vinha. De repente, deu na mente de Guilherme, passar as mãos na testa de Dona Hercília, dizendo-lhe que tudo ficaria bem. E assim o fez. E fez bem. A mulher aos poucos foi acordando, e se vendo tão bem acolhida, pelo moço ali prostrado, que mais parecia um anjo de candura, e os da casa que com ela eram só mesura, começou a pensar que deles fizera mau juízo. O rapaz que continuava a atendê-la, trazendo-lhe água com açúcar, segurando suas mãos com delicadeza, olhando seus olhos com firmeza, dizendo que não fora nada, que ficasse calma, pois coisa assim acontece em dia muito quente, fez com que ela se sentisse bem. Aliás, muito melhor do que estava antes. Até com mais saúde!

      Desde este feito, de mau agouro Guilherme passou a ter fama de benzedeiro. Moço santo. Daqueles que curam sofrimento. Traz aliviamento. E depois disto, muitos foram os quebrantos que sumiram, as dores que passaram, o desespero que foi embora, somente com as mãos do rapaz benevolente, postadas na cabeça da pessoa atendida. E sem cobrar nada por isso. Quando muito um sorriso, embora tal cobrança nem fosse precisa.

      A casa de Guilherme, que antes erma de vizinhos, habitada somente por ele e seus pais, porque irmão não tivera, virou local de peregrinação. De gente que queria do rapaz conselho, uma mensagem, vinda lá do outro mundo. Finalmente todos entenderam, que Guilherme não era um praguento, mas um trabalhador da obra de Deus, trazendo a luz do céu para a terra. Por ele Deus dava a certeza, de nunca os deixar sozinhos em momentos de sofrimento!


Kátia Pessoa – 26/06/2011



Um comentário:

  1. Olá, minha querida amiga!
    Passei aqui para lhe deixar um forte abraço e o meu carinho por você ser minha amiga!
    Te adoro e desejo á você muitas alegrias!
    Bjs e saudades!

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