terça-feira, 8 de maio de 2012

Salvadores de almas



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      "Faz pouco tempo que o Brasil conheceu os canibais de Garanhuns, cidade do sertão de Pernanbuco.
      Eram um casal e a amante que já há muitos anos matavam jovens e comiam sua carne. Eles acreditavam estar salvando as mesmas, uma vez que só as matavam depois que "Deus entrava no coração delas". Para isso eles faziam as moças assistirem filmes evangélicos, etc. 
      Coisa bizarra!"
     

      Vocês são todos um bando de ingratos! De mal agradecidos! É isso o que vocês são!

      Meu marido e eu somos pessoas boas. Pessoas de Deus. Santas! Não somos os loucos que vocês falam.

      Fizemos tudo por compaixão! Pra poder salvar as filhas de vocês. Colocar elas do lado de Deus no Paraíso!

      Vocês deviam agradecer a gente. Beijar nossos pés de joelhos. A gente só fez o que Deus pediu. Seus incrédulos! Blasfemos!

      Foi Deus quem entrou na cabeça de João e disse:

      - João, seja meu instrumento na terra! Sacrifique o corpo das moças impuras. Pra que suas almas se limpem de seus pecados. E elas fiquem ao meu lado no céu!

      João no começo não acreditou na voz. Ele me contou! Pensou que fosse alucinação. Sol demais na cabeça ou até coisa do Demo. A gente até rezou o terço. Várias vezes! Aí a voz de Deus apareceu de novo na cabeça do João. E brava! Ela disse:

      - João, você vai padecer eternamente no fogo do inferno! Por não acreditar no que te digo! E por não cumprir a minha vontade!

      João teve até medo. E parou de duvidar da voz. Aí Deus falou tintim por tintim tudo o que João precisava fazer. Deus falou da morte rápida e sem dor das moças. Do sangue delas que não se bebe. E da carne delas que se come.

       Eu vi todas as conversas de João com Deus! Por isso ajudei meu marido!

      Era Deus quem indicava o tipo de moça que precisava ser salva. Deus dizia sempre a que queria na cabeça de João. Na primeira vez Deus disse:

      - João, salve uma criança-mãe!

      Então a gente procurou a criança – mãe pra Deus. Por dois meses! Até a gente encontrar Mariana em uma feira na cidade vizinha.

      Mariana era uma menina de 13 anos pedindo esmola. Com um filho bebê nos braços. Foi expulsa da casa dos pais quando embuchou do menino. A gente até chorou da bondade de Deus. Ele queria salvar a moça e o filho de tamanho sofrimento.

      Oferecemos ajuda pra Mariana. E pedimos! Dissemos que ela seria companhia pra um casal de velhos sem filhos. Que seria uma alegria ter gente em casa. E uma criança no quintal brincando.

      Ela aceitou. Nos acompanhou. A gente nem morava nesta cidade aqui ainda. Era em uma outra. Mais pro norte. Perto da fronteira. A gente morava em um sitiozinho no meio do mato. Lugar tranquilo. Isolado.

      A gente ficou um mês com ela e a criança. Nos primeiros dias Mariana dizia que os pais eram ruins. Que fizeram com ela e o menino o que não se faz. Nem mesmo com um cachorro.

      Eu e meu marido conversamos com ela. Demos conselho. Acalmamos seu coração. Ela entendeu os pais. Os perdoou. Serenou. Foi quando Deus disse pro João:

      - Chegou a hora! Avise que ela e seu filho irão morar comigo!

      Planejamos tudo. E um dia depois do almoço conversamos com Mariana. Explicamos os planos de Deus pra ela. Ela não entendeu. Começou a chorar. Depois gritar. Quis fugir. A gente pegou ela. Ela implorou. A gente tapou sua boca. E amarrou os braços e os pés.

      Levamos ela pro celeiro. Foi lá o lugar onde o sacrifício aconteceu.

      A gente pôs ela no chão. João rezou um Pai Nosso. Encomendou sua alma. Eu e João nos despedimos dela. Dissemos que ficaria tudo bem. Que ela ia pro Paraíso ver Deus. E que seu filho ia logo em seguida. A gente falou que eles iam ser felizes lá. Eternamente.

      João deu a primeira marretada na cabeça dela. Ela desmaiou. Na segunda marretada ela morreu. Em seguida fui buscar o menino que dormia. O sono dos inocentes. Ele só acordou no Paraíso!

      João deixou escorrer o sangue dos corpos. Como Deus pediu! Tirou a carne e as vísceras pra cozinhar. Como Deus pediu!

      Mariana e seu filho foram as primeiras almas que salvamos. Depois teve outras 14. Deus disse que ficou muito feliz com nosso trabalho. E que reservou um lugar ao lado dele no Paraíso pra gente.

      Quando a gente chegar no Paraíso, as moças vão nos agradecer felizes. Eu tenho certeza disso! Vão beijar nossas mãos eternamente gratas. Pelo favor que fizemos pra elas.

      Meu marido foi um escolhido de Deus. Pra salvar essas almas perdidas. E eu me orgulho de ter ajudado ele! Eu me orgulho disso!


Kátia Pessoa – 07/05/2012



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