sábado, 3 de março de 2012

O vestido





Não a violência doméstica em suas diversas manifestações!
     

      - Quê roupa é esta?

      - O quê?

      - Eu tô falando que roupa é esta?

      - É o meu vestido de sempre, oras! Você não se lembra dele? Eu usava direto quando a gente namorava.

      - Falou bem, quando a gente namorava. Agora a gente é casado, e você não usa mais isso!

      - Não uso por quê? Ele é tão bonito. E você sempre gostou dele!

      - Gostei. Não gosto mais.

      - E porque você não gosta mais dele?

      - Não gosto porque ele é chamativo.

      - Não é não! Ele não tem decote e é comprido. Não tem nada demais!

      - Os homens vão ficar te olhando, e eu não quero nenhum homem olhando pra minha mulher!

      - Você tá louco, Orlando? Este é só um vestido como qualquer outro. Deixa de conversa, homem, que eu tô atrasada!

      - Você não vai sair daqui com este vestido não! Pode ir pro quarto colocar uma roupa decente.

      - Orlando, você não quer que eu vista uma roupa bonita? Você quer que eu fique feia, é? Apagada?

      - Você é minha mulher. Me deve respeito!

      - Eu sempre te respeitei, Orlando. E sou sua esposa, não sua propriedade. Eu vou sair com este vestido sim! Eu gosto dele e sempre o usei. Ele não tem nada demais.

      - Clara, não me faz perder a cabeça!

      - Orlando, já estou atrasada. Vou embora.

      - Você não vai tirar o vestido não, sua safada? Então olha só o que eu faço com ele! Olha só!

      - Para com isso, Orlando!

      - Você quer que os machos fiquem te olhando, é? Sua puta!

      - Para com isso, Orlando! Você está louco? Não rasga o meu vestido, não rasga!

      - Tá satisfeita agora, vagabunda?

      ...

      ...

      ...

      - Me desculpa, Clara! Me perdoa! Para de chorar.

      Eu perdi a cabeça... Não sei o que aconteceu comigo... Eu não queria fazer aquilo...

      Não chora, por favor! Não chora, meu amor!

      A gente vai na loja e compra outro vestido pra você. O que você quiser. Custe o que custar.

      Não chora, Clara! Não chora!

      Eu juro que nunca mais vou magoar você.


Kátia Pessoa – 15/02/2012



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