domingo, 24 de julho de 2011

Óculos para ver a verdade






      "Tem pessoa que não enxerga o sofrimento alheio, mesmo ele estando ali, estampado na na cara dela.

     
      Dioracina fez Lucimar chorar, sim, sim, eu vi!

      Tudo começou assim, Dioracina chegou lá, na casa de Lucimar e disse:

      - Lucimar, sua vaca, venha aqui! Dizer na minha cara, sua safada, por que você falou mal de mim, cadela! Me chamou de mulher fácil, de rapariga, sua sem vergonha! Você jogou meu nome na rua, na lama, sua lazarenta!

      Lucimar ficou toda assustada, pega assim de surpresa, assim de inesperado, com uma história dessa inventada, e posta nas suas costas, como se ela fosse assim intrigueira, autora de boato inverdadeiro sobre a amiga. Lucimar tentou se explicar, se defender, sim, sim, eu vi! Dizendo pra Dioracina que tudo aquilo era assim mau entendido, assim calúnia, fofoca maldosa de pessoa desocupada. Lucimar até chorou, assim ó, de lágrima não escorrer, assim ó, dos olhos só virar poça, assim ó, dos olhos virar mar, mas Dioracina nem se deu conta, nem percebeu, de tão danada que ela tava, de olhos esbugalhados, vermelhos, parecendo desenho animado. Dioracina nem parou para pensar, que a amiga assim acusada, assim acuada, injustiçada, sofria e se descabelava.

      Dioracina falava como trovão, forte, bravo. Ameaçou como um trator ir pra cima de Lucimar, assim pra puxar cabelo, assim pra rasgar roupa, dá tapa. Dioracina só não partiu pra carnificina, acabando de vez com a amiga, porque os vizinhos vieram correndo, assim que ouviram os berros de briga feia começando. Juntou lá, casa de Lucimar, um monte de gente se empurrando, cabeças por cima de ombros, procurando como olhar. Uns foram pra só ajudar, desapartar a briga, outros, só pra ver a desgraça alheia sendo feita, o fogo queimar.

      Lucimar dava pena, coitada, e mau conseguia falar, assim de nervosa, assim de envergonhada, de tanto que Dioracina esbravejava. Tava virada no cão a peste! De repente Lucimar começou a soluçar, assim ó, de levantar os ombros, assim ó, inchar o peito, assim ó, de pular que nem sapo, depois chorou assim, toda desmilinguida, feito criança que tiram o brinquedo, o doce, a chupeta. Tadinha da moça, dava dó! Falava assim, sem quase respirar, que nunca levantara falso da amiga, que sempre lhe fora fiel desde pequenininha, que não ia estragar assim, por nada, uma amizade de tantos anos, e acredito nela, acredito sim. Esse boato jogado assim ao vento, foi intriga, de alguém com inveja de Lucimar, moça assim tão prestativa, assim tão boa menina, uma delicadeza só.

      Mas tenho cá pra mim, que o verdadeiro culpado da briga das amigas, foi assim ó, o problema de visão de Dioracina. Foi ele o causador do furdunço, da falação sem fim. Dioracina tava assim, sem óculos, e sem óculos Dioracina não enxerga nada, nadinha, nem um palmo diante do nariz. Foi isso, sim, sim! Sem o óculos, Dioracina não enxergou no rosto da amiga, que ela era inocente, por isso a briga já no começo, não teve fim. Foi sim, a miopia sem correção de Dioracina, que não a deixou ver assim, nos olhos da amiga, que ela falava a verdade!


Kátia Pessoa – 21/07/2011 



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